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A mostrar mensagens de setembro 28, 2009

A simplicidade das coisas

II – O Meu Olhar O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás… E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem… Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras… Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo… Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender… O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo… Eu não tenho filosofia: tenho sentidos… Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar… Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar…   Alberto Caeiro
É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer.  Eugénio de Andrade 
Canção grata Por tudo o que me deste inquietação cuidado um pouco de ternura é certo mas tão pouca Noites de insónia Pelas ruas como louca Obrigada, obrigada Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão Que bem que me faz agora o mal que me fizeste Mais forte e mais serena E livre e descuidada Sem ironia amor obrigada Obrigada por tudo o que me deste Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão Florbela Espanca
Amigo 1. Amigo, toma para ti o que quiseres, passeia o teu olhar pelos meus recantos, e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, com suas brancas avenidas e canções. 2. Amigo - faz com que na tarde se desvaneça este inútil e velho desejo de vencer. Bebe do meu cântaro se tens sede. Amigo - faz com que na tarde se desvaneça este desejo de que todas as roseiras me pertençam. Amigo, se tens fome come do meu pão. 3. Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto que sem olhares verás na minha casa vazia: tudo isto que sobe pelo muros direitos - como o meu coração - sempre buscando altura. Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe entregar nas mãos o que se esconde dentro, mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares, e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança... ... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido é uma rosa branca que se abre em silêncio... Pablo Neruda, in "Crepusculário"